terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

os amores no trabalho ou mini-auto-bio-profissional

aquilo que sinto é que encostei a porta da preocupação.

claro que os problemas estão cá e não tenciono virar-lhes as costas. a diferença está dentro de mim.

- tenho diminuido a preocupação constante,
- tenho cada vez mais noção de que não sou vítima - e sim, existem muitas injustiças no meu local de trabalho, e sim, já sofri e sofro com isso com frequência, mas não quero que isso seja a chave do meu dia, ou que me limite, ou que de alguma forma me defina como pessoa ou profissional, e tenho perfeita noção que não é apenas queixando-me que alguma coisa vai mudar; - os outros não têm uma vida melhor do que a minha,
-muito muito muito importante: tenho cada vez mais noção prática, de onde venho e do que já alcancei - o que isto significa? que venho de uma família com dificuldades económicas, que os meus pais passaram por dificuldades que eu não passei; que com muito esforço e passos de fé, alcancei trabalho e bens que me agradam, que tenho familiares da minha idade, que eu acredito que nasceram com o mesmo potencial que eu, mas que estão em situações complicadas, que poderia estar desempregada ou num trabalho que abominasse mas não estou.

quando saí do segundo ano da faculdade, para nunca mais voltar, fiz um curso de secretariado. não tinha noção prática do que era ser secretário de alguém - apenas a imagem estereotipada do atender telefonemas com mini-saia, ajudar em alguma coisa hadoc, servir cafés; e também a ideia de que não falo bem ao telefone, a certeza de que não gosto de estar sempre a pedinchar trabalho, quando quero um café tiro-o e por isso não vejo razão para os outros não o fazerem, e ainda.. detesto mini-saias!

o curso vinha com estágio incluído, convidaram-me a ficar mais 6 meses (era tão pequenina que só após ter começado me apercebi que não iriam fazer descontos). quando me convidaram para um 3rd round (já com descontos) recusei, sem nenhum lado para ir - claro, fiz isto porque não tinha casa, nem carro, nem crianças. mas foi à mesma um salto de fé! foi acreditar que conseguia melhor, que merecia melhor, que podia fazer melhor e que não iria ter outra oportunidade para este salto. durante os 2 meses seguintes não consegui trabalho, mesmo com as entrevistas consecutivas que tinha - claro que disse mal da minha vida muitas vezes a cada dia. acabei por ir ter à função pública como administrativa, com um aumento de ordenado de quase 50% face ao anterior - não fiquei com um ordenado bom (nada mesmo), o primeiro valor é que estendia-se na ilegalidade - pensei que era para muitos anos e fiquei 5 meses (muito mal tratadinha também). fiquei outro mês em casa. um dia recebi um telefonema - tinham visto o meu cv num site profissional, e resumindo, o aumento face ao anterior foi de 33% (e ainda a ganhar mal), estive apenas dois anos mas pareceu uma eternidade, pela quantidade de coisas que aprendi. comecei como assistente comercial (aka secretária de todo o departamento comercial) ,ensinavam-me e eu absorvia. passado um ano fui convidada a ser gestora de prémio (aka pessoa que gere a produção que entra e sai de cada cliente), sem qualquer aumento atribuido. passado outro ano, recebi outro telefonema - a concorrência tinha ouvido falar sobre o meu trabalho!

isto é apenas um bocadinho da minha história profissional, dito assim é tudo muito cor de rosa, mas está longe de o ser.

estes dois últimos não enviei cv, não me candidatei. foram uma benção do Pai, que eu agarrei com toda a força, muitas vezes com muitas dúvidas sobre o que seria capaz, não fazendo ideia de como responder a certos problemas, e muitas vezes, respondendo (literalmente) muito mal a algumas situações. mas fui aprendendo a dar importância ao que é importante para mim, a compreender o mundo profissional, descobri (não, há 7 ou 8 anos não sabia) que o meu trabalho não basta para falar de mim, e aprendi também a falar do meu trabalho.

e não, não acordo feliz e contente e cheia de vontade para vir trabalhar, mas se neste momento não é o momento de tentar mudar a minha vida profissional, agarro-me e construo o que posso com muita gratidão por o poder fazer. a área em que trabalho não me diz grande coisa, and so what? será que houve mesmo alguém, quando era pequenino, a dizer que quando fosse grande queria trabalhar em seguros? - eu não!

dito tudo isto, não tenho paciência para pessoas que estiveram na faculdade para uma coisa, que até tinham noção do dia a dia profissional dessa coisa, que conseguiram emprego nisso e que estão sempre a queixar-se. não tenho. que isto tem de mudar, dizem, que isto não é para elas, que não vê futuro, que não é feliz.. quem é que actualmente é feliz em toda a sua essência no trabalho? e isso significa estarmos constantemente a queixarmo-nos? a dizer mal dos 1500€ que recebemos por mês? a minimizar os problemas dos outros? que tipo de felicidade utópica é essa que se criou?

não tenho paciência e não venham ter comigo.

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