quarta-feira, 7 de julho de 2010

diário de um hpv


há três dias, voltaram os sintomas.

não sei se o maior receio seria não estar assim tão curada do hpv, ou se seria começar novamente no zero. recomeçar o sentimento de que ninguém descobre o que tenho, que tenho algo estragado.

descobri que afinal não acreditei assim com tanta força que podia voltar. não estava preparada. não estou com forças.

dei por mim a contar os dias que faltam para deixar de tomar a pílula, um mês após a última dose da vacina do hpv. facilitei. baixei as armas. sonhei. achei ser possível. não é suposto? sonhar e viver e desejar não estar parada? projectar com quem está ao nosso lado - não é suposto?

falei hoje com o meu médico sobre a urgência, cheguei ás 16.30, entrei às 17h com uma enorme vontade de lhe saltar para os braços a chorar! expliquei. ardor, mau estar, comichão, humidade, cheiro.. o local onde fiz a biópsia voltou a estar mais sensível e a doer.

"não, querida, ao tempo que já foi, não era suposto"

falou. mandou-me despir, sentar. disse uma piada ou outra a tentar animar-me. sentia os meus olhos bem vermelhos e sei que a assistente chegou a ver uma gota.

"vamos começar lá por dentro"

pediu isto e aquilo. pôs líquido e olhou..

"sabes o que é isto?"

pensamento profundo nº 1 - estou grávida?!
pensamento profundo nº 2 - ele pode enfiar estas coisas todas em mim e eu continuar grávida?

"são quistos de naboth!" [leia-se nabô]

(fr. kyste, oeuf ou vésicule de Naboth; ing. nabothian cyst). Pequenos quistos formados pelas glândulas mucíparas obstruídas da mucosa do colo do útero. Ling.: foram denominados «ovos», por Naboth que os tomou por ovos caídos da cavidade uterina e instalados no colo do útero. (Naboth, Martin, anatomista e médico alemão, 1675-1721.)


pensamento profundo nº 3 - não estou grávida, também não era isto que eu queria já, agora, antes de curar tudinho..
pensamento profundo nº 4 - poderei algum dia ficar grávida?
pensamento profundo nº 5 - mas ele está a chamar nabo a quem???

pediu mais isto e aquilo.
"espeta no primeiro... pica .. pica outro.. pica..."

olho para o monitor (no vosso ginecologista também podem ver as colposcopias?) e vejo umas bolinhas com uns mini furinhos com uma gotinha de sangue.


pediu mais isto e aquilo.
"agora espreme um.. espreme outro..."

a assistente fez uma cara horrorosa e disse "desculpe mas não consigo ver" - nunca tirou os olhos do monitor;
eu olho para a parede oposta e digo: "se não fosse meu, estaria deliciada a ver" [sim, sim.. eu sou daquelas que gosta de ver um ponto negro sair devagarinho e até à exaustão] .. o problema, é que era meu.. algo meu.. quer dizer, um ponto negro também é meu, mas não está bem dentro de mim.. e acho que me doeria se olhasse. a parte boa, é que o interior do útero, a estes níveis, é-nos quase insensível.

"bem, querida, está tratado, mas não é nada disto que te está a causar o que sentes..
vamos ver cá fora"


pediu mais isto e aquilo... o ácido que se coloca exteriormente para a colposcopia, arde. é um facto. à medida que a quantidade de vezes que o fiz aumentou, diminuiu o grau de intensidade. hoje cheguei à conclusão que isso se deveu ao virus, com os tratamentos, começar a ficar adormecido. e com este exame tive ainda mais certeza de que o bicho acordou!

"querida, lamento dizer, mas não há... huum.... humm.. tens razão, está aqui. tens razão."

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